Caracas, Venezuela – No próximo domingo (28), milhões de venezuelanos irão às urnas para escolher seu próximo presidente. Nicolás Maduro busca a reeleição para um terceiro mandato, enquanto o opositor Edmundo González lidera as pesquisas de opinião. No entanto, a comunidade internacional observa o pleito com ceticismo, preocupada com a possível manipulação dos resultados eleitorais.
Nas últimas semanas, o governo venezuelano desconvocou observadores internacionais que planejavam monitorar a votação, intensificando as dúvidas sobre a transparência do processo. Ao todo, mais de 20 milhões de eleitores estão registrados para participar das eleições, embora o voto não seja obrigatório e cerca de 4 milhões de cidadãos estejam fora do país.
Como Funciona o Sistema Eleitoral na Venezuela?
As eleições na Venezuela utilizam um sistema de urnas eletrônicas, semelhante ao modelo brasileiro, mas com algumas diferenças significativas. O processo de votação funciona da seguinte maneira:
- Chegada ao Local de Votação: O eleitor apresenta a carteira de identidade.
- Autenticação: O número do documento é digitado em uma máquina, e a autenticação biométrica é realizada por meio da impressão digital do eleitor.
- Escolha do Candidato: O eleitor seleciona a foto do candidato de sua preferência. Curiosamente, os candidatos podem aparecer várias vezes na tela: Maduro, por exemplo, é mostrado 13 vezes, enquanto González aparece três vezes.
- Confirmação do Voto: Após confirmar o voto, a urna imprime um comprovante de papel.
- Depósito do Comprovante: O comprovante é dobrado e depositado em outra urna. De acordo com o governo, mais da metade das urnas passa por auditoria, e os fiscais comparam os votos eletrônicos com os comprovantes de papel após o encerramento da votação.
Os locais de votação estarão abertos das 6h às 18h, horário local (7h às 19h, em Brasília).
Há Risco de Fraude?
A integridade do sistema eleitoral venezuelano é amplamente questionada pela comunidade internacional. Além disso, não há garantias de que Nicolás Maduro aceitaria uma possível derrota. Ele já declarou que sua derrota poderia resultar em “banho de sangue” e “guerra civil”.
A última votação significativa ocorreu em dezembro de 2023, quando Maduro convocou um referendo sobre a questão de Essequibo, visando anexar parte do território da Guiana. O governo afirmou que mais de 10 milhões de eleitores apoiaram a proposta, mas testemunhas relataram locais de votação vazios. Ademais, o conselho eleitoral não divulgou as contagens dos comprovantes de papel.
Em 2017, durante as eleições legislativas para criar uma Assembleia Constituinte, a empresa Smartmatic, responsável pela tecnologia das urnas, alegou que o número de eleitores havia sido manipulado, com uma discrepância de pelo menos 1 milhão de votos. Desde então, o governo adotou novas máquinas de votação desenvolvidas internamente.
As eleições de 2017 resultaram na formação de uma Assembleia Constituinte chavista, que usurpou o poder do Parlamento de maioria opositora, aumentando ainda mais as preocupações sobre a legitimidade do sistema eleitoral na Venezuela.