O Brasil, o gigante continental, o mais populoso país da América do Sul, a nona economia do mundo, nunca ganhou um prêmio Nobel. Essa constatação devia causar desconforto, vergonha, em todos nós, se tivéssemos conexões altruístas de coletividade e senso de valor sobre o que significa essa premiação.
Criado em 1901, pelo empresário, químico, inventor e filantropo sueco Alfred Nobel, todos os anos a premiação contempla as personalidades eminentes no mundo, nas categorias Química, Física, Fisiologia ou Medicina, Literatura, Paz e Economia. Os agraciados voltam para casa com a seleta honraria, representada por um diploma e uma medalha em ouro 18, além valor na conta bancária na ordem de R$ 5 milhões.
Eu não havia pensado seriamente nisso até uma conversa que tive, há alguns anos, com o mestre cofundador da Embraer, Osires Silva. Ele veio fazer uma palestra em Cuiabá, a convite do Sebrae. Para ele, é assunto recorrente, usado para ilustrar o posicionamento e a prática que tem em relação à educação, principalmente a voltada à ciência e à tecnologia e ao jeito de ser do brasileiro que prefere torcer para o jacaré.
Países vizinhos nossos, comprovam que tamanho não é documento. Argentina tem cinco prêmios, Colômbia, e Chile, dois, respectivamente. Em 123 anos de premiação, o Brasil tenta emplacar nomes para as categorias, mas acaba ficando fora das cerca de 600 premiações distribuídas.
O assunto rende sempre muitas justificativas e uma delas sabemos: a falta de prioridade nos investimentos contínuos da educação de qualidade. Para se chegar a um Nobel, o caminho é longo e desafiador, e nós brasileiros, não temos essa disposição coletiva para o amadurecimento intelectual competitivo. Basta lembrar que boa parte da população nega hoje, mesmo após o efeito devastador da Covid-19, os poderes da ciência em relação à pesquisa, às vacinas, comprometendo o resultado efetivo desse bem na evolução e preservação da sociedade.
Mesmo assim, olhando para a nossa história, reconhecemos a existência de grandes nomes que poderiam ter sidos laureados com a máxima honraria intelectual do Planeta, como o médico e cientista Carlos Chagas, morto em 1934, que se dedicou ao estudo das doenças tropicais e descobriu o protozoário do gênero Plasmodium, causador da malária e o parasita Trypanosoma Cruzi, transmissor da doença de Chagas. Zilda Arns, médica pediatra, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa, organismos de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que morreu em 2010, vítima de um terremoto enquanto trabalhava no Haiti, também foi indicada e não ganhou a premiação.
E sobre a conversa com Osires Silva, assunto que ele deixou registrado, no programa Roda Viva, traz a versão que acho muito esclarecedora e estarrecedora: o brasileiro sabota e prosperidade alheia. “Eu fiz essa pergunta aos membros da Academia Sueca. Eles não responderam imediatamente. Acho que ficaram embaraçados, mas depois de umas doses de vodca um deles falou: ‘Eu vou responder a sua pergunta! Vocês brasileiros, são destruidores de heróis. Todos os candidatos brasileiros que apareceram, contrariamente aos dos outros países, em particular dos Estados Unidos, quando aparece um candidato brasileiro todos do Brasil jogam pedra. Não tem apoio da população. Parece que o brasileiro desconfia do outro ou tem ciúme do outro, sei lá o que acontece”, transmite o engenheiro aeronáutico mais famoso do Brasil.
E assim, seguimos como um povo avesso ao propósito de reconhecer as nossas próprias grandezas ligadas ao desempenho humano. No esporte, já provamos o sabor de vitórias emblemáticas, e a torcida sempre contou muito para as conquistas. Precisamos fazer a ondinha torcedora fora dos estádios, lembrar que temos outras valiosas causas que poderiam nos honrar ainda mais de sermos brasileiros.