“E, outra vez voz digo que é mais fácil passar um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. (Mateus 19:24). Esta frase vem sendo repetida há séculos pela população católica e, certamente, moldou escolhas de vida mundo afora. Se bem que, na atualidade, o slogan ‘fé e prosperidade’ substitui sorrateiramente o que teria sido escrito por Mateus e alivia pessoas à busca desenfreada pela riqueza material. Se Deus abençoou essa mudança, eu não sei.
Era pequena e assistia missa, sentada ao lado dos meus pais. Ficava imaginando, após a fala aterrorizante do padre, como seria espremer um camelo até passá-lo pelo buraco de uma agulha. “Impossível”. Quando vi um camelo de perto, em viagem ao Oriente, confirmei que nenhuma mágica seria capaz de realizar tamanha proeza. Então, a escolha entre céu e dinheiro, ficou mais fácil.
O fato é que nesta semana, este conceituado Jornal, trouxe uma matéria muito importante sobre a liderança de Mato Grosso no ranking nacional dos ricos, os 0,01% da população, a dita concentração de renda, a mesma que é sinônimo da abissal diferença entre esses privilegiados e os restantes 99,99%. E aí vem a reflexão: Estado rico ou Estado que cria poucos ricos? Sim, entre os quase quatro milhões de habitantes, 2.947 pessoas formam o contingente dos super ricos, com renda mensal média de R$ 605.466. Este grupo deu uma banana para Mateus e segue firme no propósito do acumular fortunas.
E quanto ao Estado rico? Estado rico não deixaria pessoas morarem embaixo de árvores, nas sarjetas, sobre camas de papelão, sob temperaturas de 45 graus; Estado rico cuidaria do patrimônio histórico da capital, com zelo e afeto, canalizando e tratando os esgotos; conservaria os casarões que imortalizam o passado para que Cuiabá fosse uma reconhecida atração turística; construiria museus climatizados, para reunir as famílias em torno da valiosa arte local, nas tardes de domingo; construiria estrutura de educação escolar de qualidade a ponto de concorrermos com as da Finlândia e rede de tratamento à saúde, nos níveis de Taiwan; implementaria modelos de estrutura nas periferias, com esporte e cultura, como forma de tirar crianças e adolescentes da marginalidade, assim como fez Calli, Colômbia, reconhecida mundialmente por se libertar das garras do crime organizado, fazendo prevalecer a ternura sobre o caos.
Depois de Mato Grosso, (184%), vem Mato Grosso do Sul (161%), Amazonas (141%), Tocantins (134%) e Goiás (120%), berços e vitrines do agronegócio.
Segundo nota técnica do Ibre/FGV, “verificou-se no período analisado – 2017/2022 – um crescimento extraordinariamente alto da renda da atividade rural, principalmente nos estratos mais ricos, em que esse tipo de rendimento, isento de tributação na sua maior parte, cresceu acima de 220% ou 140% em termos reais”, diz trecho do documento.
Uma informação acima mata a charada deste crescimento, evidenciando que não é apenas competência setorial, mas efeito da bênção da “isenção de tributos, na sua maior parte”.
E se a mesma política de isenção fosse aplicada a novos setores, em forma de rodízio? Agora, poderia ser a vez do setor das Tecnologias de Informação. Colocaria Mato Grosso na era da Inteligência Artificial e criaria um virtuoso contexto de trabalho, com investimentos na formação de profissionais para absorver os empregos.
Nesta área, a previsão, em nível de Brasil, até 2025, é a abertura de 430 mil vagas, sendo que existe hoje um déficit de profissionais na ordem de 140 mil. Eu gostaria de morar em um Estado rico. E você?