Tenho cá comigo que as fakes news são a modernização da fofoca, a atualização do sistema analógico da mentira para o digital, o upgrade do conto aumentado um ponto, as histórias de pescador elevadas à potência X.
Existem até estudos que dizem que a fofoca é um tipo de amálgama social, que faz bem para a saúde de quem se alimenta do desejo de comentar algo, geralmente deslizes picantes da vida alheia, como se fosse uma dose de vitamina, de adrenalina no tubo de ensaio das convivências humanas.
Acredito que a fofoca seja uma forma de sabotagem pela disputa de coisas e sentimentos. Ou seja, a humanidade prescinde desse hábito que parece causar prazer, porém, aliena, deforma, oprime e pode até gerar crise diplomáticas entre países.
Em tempos passados, não muito distantes, as conversas inofensivas, tramadas sobre os acontecimentos da rua, do bairro, da paróquia, geralmente nas calçadas, quando pessoas se sentavam para prosear, enquanto fumavam, tomavam café, chimarrão, ou até uma pinguinha, paravam aí. Agora, os celulares tornaram-se o meio absoluto de interação entre pessoas e grupos sociais, via canais digitais na Internet, e o poder da comunicação vem extrapolando todos os limites até então conhecidos pela sociedade.
Aquele ato caipira de se debruçar na janela e pedir sal emprestado, pretexto para engatar uma rodada de fofoca, foi substituído por plataformas e até empresas gigantes de tecnologia digital, interessadas em plantar “verdades fabricadas”, nas mentes vazias, para atender interesses de grupos econômicos e políticos. As antigas conversas de comadres, agora fake news, vêm se tornando negócio lucrativo, desestabilizando realidades, estimulando o caos, anunciando cenários imprevisíveis, fisgando massas desinformadas como se fossem cardumes cegos diante de chicotes.
As fakes news são uma forma de dominação, é o sequestro da cognitividade, a substituição das batalhas sangrentas do passado, lideradas pelos maiores conquistadores de territórios: Gêngis Khan, Alexandre, Adolf Ritler e Napoleão Bonaparte. Os filmes de ficção do passado avisaram que as guerras do futuro seriam digitais, embora Palestina e Ucrânia estejam vivendo, neste momento, extermínios por bombas à moda antiga, uma brutal e inaceitável covardia praticada por seres impróprios à vida.
A quem interessa as fakes news? Dois grupos iniciais alimentam a usina de fabricação e distribuição. Ambos falam em nome da liberdade de expressão: as pessoas de péssimo caráter, ou sem nenhum, que sabem o que querem e apostam na impunidade, já que o assunto é novo e os legisladores ainda estão patinando no contexto da legalidade e; os ingênuos, os chamados bucha de canhão, que se deixam usar para fazer parte do estrago, na inocência de que estão edificando uma causa. E de fato estão. Por trás das fake news existe a causa da extrema direita, que não mais podendo levar os rebeldes ao pelourinho, os seduz com conversas de cobra no paraíso. Acontece que neste caso, a maçã explode no estômago de todos, com efeito radioativo.
Na matemática, o X possui poderes para abrigar infinitas incógnitas, é o refúgio do desconhecido. Na realidade política e econômica, uma das empresas de Elon Musk não se chama X por acaso. São muitos e obscuros objetivos escondidos nessa letra. Felizmente, como em um filme, o protagonista que se opõe ao vilão também se vale do X para falar alto em nome da justiça e da democracia, para impor limites contra a mentira predadora. O nome do mocinho é X grandão.